ASSOFT ADMITE PROCESSAR ESTADO, SE DER PREFERÊNCIA AO SOFTWARE LIVRE


Assoft admite processar Estado, se der preferência ao software livre

Assoft admite processar Estado, se der preferência ao software livre

22 OUTUBRO 2013

Orçamento de Estado de 2013 (OE2013) já estipulava que os organismos do Estado deveriam privilegiar o uso do software livre (e portanto gratuito; o que é diferente de software de código aberto ou open-source, que pode ser pago, mas disponibiliza os códigos). O Orçamento de Estado de 2014 (OE2014), que foi entregue pelo Governo na Assembleia da República há uma semana e meia, mantém o estatuto preferencial pelo software gratuito – e continua sem fazer qualquer referência à cedência dos códigos – mas acrescenta quatro alíneas, que estipulam que a escolha do software deve ter em conta os custos totais de utilização (licenças, acrescidas de manutenção, upgrades, etc.) e que as aquisições devem ser aprovadas pela Agência de Modernização Administrativa (AMA).

A Associação Portuguesa de Software (Assoft), que representa os produtores de software proprietário, duvida da legalidade da diretiva que consta no OE2014 e admite recorrer aos tribunais, caso o estatuto preferencial do software livre seja aplicado em concursos ou aquisições feitas por organismos do Estado. «O Estado não deve ter opções preferenciais por tecnologias ou marcas. E isto porque o Estado deve fomentar a concorrência para ter a melhor relação custo/qualidade. Além disso, parece-me que a não neutralidade do Estado pode violar as normas da concorrência», defende Luís Sousa, presidente da Assoft, quando questionado pela Exame Informática.

Luís Sousa confirma que desde o OE2013 que o software livre assumiu estatuto preferencial, mas garante que esse estatuto não tem sido levado à prática: «O que aconteceu foi um atraso na implementação de novas soluções, devido à obrigação, que cada organismo passou a ter de respeitar, de comprovar qual é a solução com custo total mais baixo».

O responsável da Assoft assume a intenção de questionar o Governo sobre esta matéria, apesar de garantir que nenhum dos membros da associação de produtores de software ter sido, até à data, preterido com base na preferência pelo software livre. Mas a Assoft admite recorrer à justiça, caso algum dos seus associados seja eliminado com base na diretriz que dá estatuto preferencial ao software livre.

Luís Sousa considera que o estatuto atribuído ao software livre é apenas «uma referência política». «Sem a referência ao software livre, nada haveria de mal. O texto do orçamento passava a apenas a definir que deveria ser adotada a solução com a melhor relação custo/qualidade. Não vejo outro objetivo (no estatuto do software livre), senão objetivos políticos», acrescenta. A pressão causada pela crise e respetivos cortes orçamentais, e a tentativa de levar os produtores de software a reduzirem custos das licenças são alguns motivos que a Assoft admite estarem na origem da diretriz incluída no OE2014.

Apesar de promover a adoção do software livre, o OE2014 não faz menção à interoperabilidade e à segurança das soluções adotadas. «Estes dois requisitos é que deviam estar acautelados, e não a preferência por uma tecnologia», remata Luís Sousa.

Fonte: Exame Informática